Crónica para Gambelas

   Há cerca de duas semanas tive visitas, um casal de gente de bem (expressão usada pelo meu pai quando tínhamos que ir a casa de estranhos com propósitos honestos...), que viajaram mais de 500 kms para me darem a confiar um tesouro. Eles sabiam o que tinham, também estavam assustados com certas atitudes que se ouvem entre os que supostamente "amam" os animais; quanto ao que vinham ... só tinham um pressentimento, dois dedos de conversa e uma olhadela às patetices desta escrevinhadora.
   Talvez contassem também o facto de a distância matar as saudades, e o que está longe da vista fica perto do coração!
   Em casa, eu sentia-me contraditória, aborrecida mesmo comigo. Uma longa temporada de depressão não tratada, muitos problemas pessoais, muitas dúvidas, época de balanço... e o assumir de um novo compromisso que me tornasse a ligar à casa, à família, aos projectos que irão ser concretizados aqui, desviando-me de qualquer hipótese de fuga!
   Quando disse, a pessoas e na net, que a minha Pucca precisava de companhia, era verdade: ela andava choca, letárgica, dorminhona, pancrácia e palerma.              Como eu !

   Um mostrava-me um cão castanho sem casa, outra perguntava-me se eu queria uma retriever, outros punham-me em grupos para ser FAT de gatos ...

   Ao que vinha o casal que me visitou era e é, tudo o que eu dou à minha família, e o que traziam ... eu não sabia. Estava como numa daquelas situações pós parto que correu bem, que as ecografias não acusavam nada, mas mesmo assim contamos os dedinhos...e passamos a mão...e vemos se os olhinhos estão direitos !

   Apraz-me dizer agora que adoptei um ser com muito bom feitio e que o amo da mesma maneira que amei os que passaram pela minha vida. Os animais continuam a não me decepcionar e de bom grado também constato que ainda há gente de bem neste país.

Obrigada aos dois !